Os Livros que Li na Prisão
Nessa prisão não há muitos livros. Há algumas bíblias e uma cópia de Ben Hur no meu bloco de celas. Mas é isso. Eu vi uma biblioteca enquanto eu entrava na prisão, mas eu nunca vi pessoas lá, ou com livros novos. Ninguém parece saber ou se importar. Essa é meio que uma situação dolorosa pra mim. Eu adoro ler e estou sempre cercado por livros. Todos meus amigos podem testemunhar, eu quase sempre carrego um livro comigo, caso eu tenha alguns minutos perdidos, esperando em um sinal vermelho ou coisas do gênero. Nos 3 primeiros dias em que eu fui detido eu quase fiquei louco. O lado de dentro da minha própria cabeça não era um lugar legal pra se estar. Felizmente, meu advogado conseguiu resolver essa situação. Minha suposição é que o Diretor sabe que eu sou inocente e que não há acusações, então ele está OK com essa disciplina mais relaxada. Já que meus livros aparentemente são um componente importante das "circunstâncias" da acusação, achei que eu simplificaria um pouco a vida deles e escreveria umas poucas notas sobre os livros que li aqui, assim eles não precisam fazer uma incursão na minha cela pra confiscar esses livros (como fizeram com os meus outros). Esses livros não foram escolhidos por mim. A maioria deles foi amavelmente selecionada por meus amigos, um ou dois são uma inclusão aleatória.
O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA - Gabriel García Márquez Eu nunca gostei de romances de história de amor. Dramas de época são o mais longe que meu gosto pode ir. Então eu supostamente não deveria gostar desse livro. Mas, pra minha surpresa, a linguagem visual fantástica de Márquez e as descrições convincentes, detalhadas e profundas das pessoas, transformaram o livro em um prazer pra ler. Acho que há uma razão pro comitê do Nobel tê-lo escolhido.
RESILIÊNCIA – Harvard Business Review Um pequeno livro branco. 120 páginas contendo 6 ou 7 artigos sobre como pessoas lidam com adversidade e se recuperam de tragédias, fracassos ou outras situações adversas. Eu o li duas vezes. Da primeira vez regularmente e então uma segunda vez como um paliativo quando eu tinha terminado meus outros livros. Eu também esperava que as lições batessem fundo e talvez fossem mais úteis. Certamente foi interessante, mas se realmente ajuda, não saberei até que minha provação atual tenha acabado e eu tenha me recuperado dela. Ou não.
GALÁPAGOS – Kurt Vonnegut Uma história meio de ficção científica, muito engraçada, seca e satírica sobre o quase fim da humanidade. Totalmente divertida e com um tom perfeitamente adequado ao meu humor sombrio. Recomendaria a qualquer pessoa que esteja na prisão.
THE BLOOD NEVER DIED – John Newsinger Não há nada como uma história sobre o lado feio do império Britânico para botar seus próprios problemas em perspectiva. Esse é um livro cheio de miséria perpetrada pelos Britânicos. Desde a escravização na Jamaica na segunda metade dos anos 1700, passando por tudo até a participação subserviente de Blair e Brown nas invasões do Iraque e do Afeganistão. É um livro fascinante, de uma forma horrível. Ele documenta cenas da história que são muito frequentemente esquecidas ou varridas pra debaixo do tapete.
REBOOT – Amy Tintera Aí então vem - pra limpar o paladar - um simples romance pipoca distópico futurista para jovens adultos. Uma mistura de zumbis, robôs e revolucionários serve como algum entretenimento, mas a trama abandona seu cérebro segundos após soltar o livro.
GUERRAS SUJAS – Jeremy Scahill Caso eu tivesse esquecido o quão problemáticos impérios podem ser, e particularmente que presença horrível os Estados Unidos podem ser no mundo, esse livro veio como um lembrete. Mais que 500 páginas de texto impresso bem apertado, cheio de datas, citações, fatos e histórias horríveis. É como um acidente de carro que você não pode evitar de olhar. É um livro importante, mas eu sei que ele me dará novos pesadelos nos anos que virão.
THE LAND OF NAKED PEOPLE - Madhusree Mukerjee Uma mistura de relato de viagem com estudo antropológico, esse pequeno livro conta em crônicas os encontros e experiências da autora com tribos indígenas vivendo nas ilhas Andaman no Oceano Índico. Essas pessoas podem ser o grupo mais velho de humanos isolados ainda em existência. O livro conta um pouco da história deles e fala sobre a degeneração atual, a exploração, o irrevogável declínio e a possível destruição deles. É uma história interessante, mas triste.
OS DESPOSSUÍDOS – Ursula K. Le Guin Um título que sempre me pareceu inteligente, contendo a interpretação normal enquanto também escondia à luz do dia o seu significado mais profundo. Esse tem sido um dos meus livros favoritos desde que eu o li pela primeira vez, talvez há 20 anos. Desde então eu o reli várias vezes. A leitura mais recente terminou hoje cedo. Ele descreve um exemplo de uma sociedade anarquista e como os sentimentos, as interações, os desejos e as crenças funcionam em um ambiente como esse e o que acontece quando a mudança vem, tanto interna como externamente. É um livro sobre humanos olhando para o mundo de uma perspectiva revolucionária, às vezes falhando e às vezes tendo sucesso. Eu o adoro.
O que vem pela frente? Eu acabei de começar THE SUGAR BARONS de Matthew Parker, uma história do cultivo de cana-de-açucar no Caribe e de quais foram o impacto e as implicações desse "ouro branco". Depois disso, quem sabe? Se eu der sorte, meu tempo na prisão pode acabar na quinta (2 de maio). De toda forma, continuarei lendo. Ola